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LESÕES POR ESFORÇO REPETITIVO

                                                                                                                                                   Dr. Crischiman Dal Zotto

Lesão por Esforço Repetitivo (L.E.R.) não é propriamente uma doença. É uma síndrome constituída por um grupo de doenças que afetam músculos, nervos e tendões dos membros superiores principalmente e sobrecarregam o sistema musculoesquelético (tendinite, tenossinovite, bursite, epicondilite, síndrome do túnel do carpo, dedo em gatilho, síndrome do desfiladeiro torácico, síndrome do Manguito Rotador do Ombro). Esse distúrbio provoca dor e inflamação e pode alterar a capacidade funcional da região comprometida. A prevalência é maior no sexo feminino.

Também chamada de Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho (D.O.R.T.), Lesão por Trauma Cumulativo (L.T.C.), Afecções Musculares Relacionadas ao Trabalho (A.M.E.R.T.) ou Síndrome dos Movimentos Repetitivos.

A L.E.R. é causada por mecanismos de agressão, que vão desde esforços repetidos contínuos ou que exigem muita força na sua execução, até vibração, postura inadequada, sempre agravada pelo estresse.

Apesar de que outras patologias possam causar esta síndrome (distúrbios hormonais comuns na época de menopausa, hipotiroidismo, doenças infecciosas, doenças imunológicas, síndromes depressivas, traumatismos fora do local de trabalho, ‘hobbies’, etc), tal associação de terminologias fez com que a condição fosse entendida, erroneamente, apenas como uma doença ocupacional, e que existem profissionais expostos a maior risco (pessoas que trabalham com computadores, em linhas de montagem e de produção ou operam britadeiras, assim como digitadores, músicos, esportistas e pessoas que fazem trabalhos manuais, como nas  indústrias têxteis.

Falando especificamente no ombro, podemos dividir a patologia causada pela L.E.R. em três estágios principais:

                                                             

                                                 I - Bursite: apresenta somente inflamação com dor predominantemente                                                                             noturna ou após a atividade repetitiva; não apresenta nenhum tipo de sinal de                                                             acometimento dos tendões do manguito (Fig. 1).

                                           

 

 

 Fig. 1 – Estágio I – Bursite

 

                                                  II - Tendinose e/ou rotura parcial: inflamação crônica com desgaste dos tendões                                                          ou rotura parcial dos mesmos (Fig. 2).

                                                         

 

 

Fig. 2 – Estágio II – Rotura parcial do Manguito Rotador.

 

                                                III- Rotura completa de um ou mais tendões (Fig. 3).

 

 

 

 

 

 

 

Fig. 3- Estágio III – Rotura completa do Manguito Rotador.

 

No Brasil as patologias por esforço repetitivo do Ombro respondem pela nona causa geral de afastamento do trabalho na seguridade social.

 

Diagnóstico

O diagnóstico é basicamente clínico. O mais importante é determinar a causa dos sintomas para eleger o tratamento adequado. Para tanto, muitas vezes, é preciso recorrer a uma avaliação multidisciplinar. Conforme a articulação e a suspeita da lesão, exames complementares de imagem são necessários (Rx, US, RNM).

 

Sintomas

Os principais sintomas são: dor nos membros superiores e nos dedos, dificuldade para movimentá-los, parestesias, fadiga muscular, alteração da temperatura e da sensibilidade, redução na amplitude do movimento, inflamação e perda de força.

É importante destacar que, na maioria das vezes, estes sintomas estão relacionados com uma atividade inadequada não só dos membros superiores, mas de todo o corpo, que se ressente, por exemplo, se houver compressão mecânica de uma estrutura anatômica ou se o paciente ficar sentada diante do computador ou tocando piano por muitas horas seguidas.

 

Tratamento

Nas crises agudas de dor, o tratamento inclui o uso de anti-inflamatórios e repouso das estruturas musculoesqueléticas comprometidas. Nas fases mais avançadas da síndrome, a aplicação de corticoides na área da lesão, IM ou por via oral, fisioterapia e intervenção cirúrgica são recursos terapêuticos que devem ser considerados.

Especificamente no ombro as patologias na fase I são basicamente tratadas de forma conservadora, com medicação, repouso e se necessário, fisioterapia. Na fase II, ainda continua o tratamento conservador, porém e principalmente, quando se tem rotura parcial do tendão, existe uma probabilidade maior que o tratamento cirúrgico seja necessário.  Na fase III o tratamento é somente cirúrgico.

 

Atualmente o tratamento cirúrgico considerado padrão-ouro para o ombro é a Videoartroscopia do Ombro. É uma técnica minimamente invasiva pela qual através de, em média, quatro orifícios, se tenha acesso a toda articulação do ombro e utilizando-se de pinças e material apropriado se obtenha a reparação da lesão. Entre as principais vantagens desta técnica, estão: estética, menor agressão à anatomia, curta internação hospitalar, menor intensidade de dor, início precoce da fisioterapia e retorno mais rápido às atividades, chance de melhor resultado pós-operatório e baixo índice de complicações. Procedimento este, que realizamos semanalmente no centro cirúrgico do Hospital Santa Isabel e Hospital da Unimed (Fig. 4).

 

 

 

 

 

 

 

 

Fig. 4- Imagem esquema de sutura do Manguito Rotador via artroscópica.

 

Recomendações que podem ser dadas aos pacientes:

 

* Procure manter as costas eretas, apoiadas num encosto confortável e os ombros relaxados enquanto estiver trabalhando sentado. Cuide também para que os punhos não estejam dobrados. A cada hora, pelo menos, levante-se, ande um pouco e faça alongamentos;

 

* Certifique-se de que a cadeira e/ou banco em que se senta para trabalhar sejam adequados ao tipo de atividade que você exerce;

 

* Não imagine que L.E.R. é uma síndrome que acomete apenas as pessoas que trabalham em determinadas funções. Quem usa o computador, por exemplo, para o lazer durante horas a fio, também está sujeito a desenvolver o distúrbio.

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